terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Dom Supremo - Parte III

Continuando...
"Peguemos um mandamento qualquer: “Amar a Deus sobre todas as coisas.” Eis o Amor. 
“Não tomar seu santo nome em vão.” 
Ousaríamos falar superficialmente de alguém que amamos?      
“Guardar domingos e festas.” 
Não ficamos muitas vezes ansiosos, esperando o dia e encontrar quem amamos para nos dedicarmos ao Amor? Então, se amamos Deus, o mesmo há de acontecer. O Amor exige que obedeçamos todas as leis de Deus. 


Quando um homem ama, é desnecessário exigir que honre seu pai e sua mãe, ou que não mate.  Para o homem que quer bem a seu próximo é uma ofensa exigir que não roube  -  como poderia roubar quem ama? E seria supérfluo pedir que não levante falso testemunho  -  pois jamais faria isto, como seria incapaz de desejar a pessoa que o outro ama. 
Portanto, “o amor é o cumprimento da Lei”. 
O Amor é a regra que resume todas as outras regras. 
O Amor é o mandamento que justifica todos os outros mandamentos. 
O Amor é o segredo da vida. 


Paulo terminou aprendendo isto, e nos deu, na carta que lemos agora, a melhor e mais importante descrição do summum bonum, o Dom Supremo.     
Paulo começa a comparar o Amor com outras coisas que, em seu tempo, tinham muito valor para os homens. 


Ele compara com a eloqüência; um dom nobre, capaz de tocar os corações e mentes dos seres humanos, e estimulá-los a realizar importantes tarefas sagradas, ou aventuras que vão além dos limites. Paulo se refere aos grandes pregadores e diz: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.” E todos nós sabemos por quê. Muitas vezes escutamos o que pareciam ser grandes idéias de  transformação do mundo. Mas são palavras ditas sem emoção, vazias de Amor, elas não nos tocam, por mais lógicas e inteligentes que pareçam ser. 


Paulo compara o Amor com a Profecia. Compara com os Mistérios. Compara com a Fé. Compara com a Caridade. 
Por que o Amor é mais importante que a Fé? Porque a Fé é apenas uma estrada que nos conduz até o Amor Maior. 
Por que o Amor é mais importante que a Caridade? Porque a Caridade é apenas uma das manifestações do Amor. E o todo é sempre mais importante que a parte. Além disso, a Caridade é também  apenas uma estrada, uma das muitas estradas que o Amor utiliza 
para fazer com que um homem se uma a seu próximo.     


E existe, todos nós sabemos disto, um bocado de caridade sem Amor. É muito fácil jogar uma moeda para um pobre na rua. Geralmente é mais fácil fazer isto que deixar de fazê-lo. Deixamos de nos sentir culpados pelo cruel espetáculo da miséria. Que grande alívio, por apenas uma moeda! É barato para nós, e resolve o problema do mendigo. Entretanto, se realmente amássemos aquele pobre, nós faríamos muito mais por ele. Ou não faríamos nada. Não daríamos a moeda e  -  quem sabe  - a nossa culpa por aquela miséria poderia despertar o verdadeiro Amor.


Paulo então compara o Amor com o sacrifício e o martírio. E eu suplico àqueles que desejam, algum dia, trabalhar para o bem da Humanidade: jamais, esqueçam que, mesmo que  seus corpos sejam queimados em nome de Deus, se não tiverem Amor, não adianta nada. Nada! 
Vocês não podem dar nada mais importante  do que reflexo do Amor em suas vidas. Isto é a verdadeira linguagem universal, que nos permite falar chinês, ou os dialetos da Índia. Se algum dia  vocês forem a estes lugares, a eloqüência silenciosa do Amor fará com que sejam entendidos por todos. A mensagem de Fé de um homem está na maneira como vive sua vida, e não nas palavras que ele diz."


Boa semana!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Dom supremo - Parte II

Continando o post anterior...
"Todos nós, em algum momento, já fizemos a mesma pergunta que todas as gerações fizeram:

Qual é a coisa mais importante da nossa existência?
Queremos empregar nossos dias da melhor maneira, pois ninguém mais pode viver pela gente. Então, precisamos saber: para onde devemos dirigir nossos esforços, qual o supremo objetivo a ser alcançado?
Estamos acostumados a escutar que  o tesouro mais importante do mundo espiritual é a Fé. Nesta simples palavra se apóiam muitos séculos de religião.
Consideramos a Fé a coisa mais importante do mundo? Pois bem, estamos completamente errados.
Se em algum momento acreditamos nisto, podemos deixar de acreditar.
No  capítulo  que  acabei  de  ler,  fomos  conduzidos  aos  primeiros tempos do Cristianismo. E, como vimos, “permanecem a Fé, a Esperança e o Amor, estes três. Porém, o mais importante é o Amor”.
Não se trata de uma opinião superficial de Paulo, autor daquelas linhas. Afinal de contas, ele estava  falando de Fé um momento antes. Ele dizia:
    “Ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver Amor, nada serei.”
Paulo não fugiu do assunto; pelo contrário, comparou a Fé com o Amor. E concluiu:
  “(...) o maior destes é o Amor.”
Deve ter sido muito difícil para Paulo dizer isto, Um homem costuma recomendar aos outros aquilo que, nele, é o ponto forte.
O Amor não era o ponto forte de Paulo. Um estudante com senso de observação irá notar que, à medida que envelhecia, o apóstolo tornavase mais tolerante, mais terno. Mas a mão que escreveu “porém, o maior
destes é o Amor”, esteve muitas vezes manchada de sangue na juventude.
Além disso, esta carta aos coríntios não é o único documento a mostrar o Amor como o summum bonum, o Dom Supremo. Todas as obrasprimas do Cristianismo concordam a este respeito.    

Pedro diz: “acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados”. E João vai mais longe: “Deus é Amor”.
Podemos ler, também, em outro texto de Paulo: “o cumprimento da Lei é o Amor”.

Por que Paulo disse isto? Nessa época, os homens procuravam chegar até o Paraíso cumprindo os Dez Mandamentos – e as centenas de outros dez mandamentos que eles haviam fabricado tendo como base as
Tábuas da Lei. Cumprir a lei era tudo. Era mais importante, inclusive, que viver.
Então Cristo disse: eu vou mostrar a vocês uma maneira mais simples de chegar ao Pai. Se vocês prenderem isto, podem fazer centenas de outras coisas sem medo de ofender a Deus. Amor. Se vocês amarem, estão cumprindo a lei, mesmo que não tenham consciência disto.
Podemos verificar por nós mesmos que este conselho funciona."

Emocionante, não é mesmo?
Aguardem, pois muito mais está por vir...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O dom supremo - Parte I

Olá pessoal, tudo bem?


Após longa ausência retorno iniciando uma série de postagens do texto cujo autor é Henry Drummond. O texto foi traduzido e adaptado livremente do sermão “The Greatest Thing in the World” por Paulo Coelho.


Esses escritos mexeram tanto comigo, com a minha alma e espírito, que decidi compartilhar aqui com vocês. Vamos para a primeira parte!


" No final do século passado, numa tarde fria de primavera, um grupo de homens e mulheres se reuniu para escutar o mais famoso pregador daquela época.  Eram pessoas vindas de diversos lugares da Inglaterra, ansiosas para ouvir o que o homem tinha a dizer.
Mas o pregador, depois de oito meses percorrendo diversos países do mundo num cansativo  trabalho de evangelização, sentia-se vazio. Olhou a pequena platéia, ensaiou algumas frases, e terminou por desistir.  O Espírito de Deus não o havia
tocado naquela tarde.


Triste, sem saber o que fazer, virou-se para um jovem missionário
que estava entre os presentes. O rapaz havia regressado da
África há pouco tempo, e talvez tivesse alguma coisa
interessante para dizer.


Pediu, então, que o rapaz o substituísse.
As pessoas reunidas naquele jardim em Kent ficaram um pouco desapontadas. 
Ninguém sabia quem era o jovem missionário. Na verdade, ele nem era um missionário; havia recusado sua ordenação como ministro, porque  não estava seguro de que aquela fosse sua verdadeira vocação.
Procurando uma razão para viver, procurando a si mesmo, o rapaz havia passado dois anos no interior da África  - entusiasmado com o exemplo de pessoas que iam atrás de um ideal.


 As pessoas no jardim em Kent não gostaram da troca.
Tinham vindo por causa de um pregador experiente, sábio,
famoso. E agora eram obrigadas a ouvir uma pessoa que  -
assim como elas  - ainda lutava para encontrar a si mesma. 



Mas Henry Drummond  -  este era o nome do rapaz  -  havia 
aprendido algo. 
Henry pediu emprestada uma Bíblia de um dos presentes e leu 
um trecho da carta que Paulo escreveu aos  
coríntios:      
“Ainda que eu fale as línguas dos homens  
      e dos anjos, se não tiver amor,  
serei como o bronze que soa, ou como 
      o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar 
       e conheça todos os mistérios e toda a ciência;  
  ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto  
      de transportar montanhas, 
  se não tive amor, nada serei. 
E ainda que eu distribua todos os 
      meus bens entre os pobres 
            e ainda que entregue meu próprio 
                 corpo para ser queimado,  
                    se não tiver amor, 
nada disso me aproveitará. 
O amor é paciente, é benigno, 
  o amor não arde em ciúmes, 
           não se ufana, não se ensoberbece, 
          não se conduz inconvenientemente, 
            não procura seus interesses, 
                   não se exaspera, 
            não se ressente do mal; 
          não se alegra com a injustiça, 
          mas regozija-se com a verdade.  
     Tudo sobre, tudo crê, tudo espera, 
                  tudo suporta. 
  O amor jamais acaba.  
                 Mas, havendo profecias, desaparecerão;  
                          havendo línguas, cessarão; 
                          havendo ciência, passará.  
                    Porque em parte conhecemos, 
                         e em parte profetizamos.       
              Quando, porém, vier o que é perfeito, 
            o que então é em parte será aniquilado. 
Quando eu era menino, falava como um  
   menino, sentia como um menino.  
    Quando cheguei a ser homem,  
  desisti das coisas próprias de menino. 
 Porque agora vemos como em espelho, 
           obscuramente, e então veremos face a face;  
               agora conheço em parte, e então 
                conhecerei como sou conhecido. 
    Agora, pois, permanecem a Fé,  
       a Esperança, e o Amor.  
                 Estes três.  
  Porém, o maior deles é o Amor.”     

Todos escutaram em silêncio respeitoso.  
Mas estavam decepcionados.  
A maior parte já conhecia o trecho,  
e já havia meditado longamente sobre ele. 
O rapaz podia ter escolhido algo mais original, mais palpitante. 


Quando acabou de ler, Henry fechou a Bíblia, olhou para o céu,  e começou a falar: "


Até o próximo post, meus queridos amigos!